segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Começa assim...

Eu trabalho em uma biblioteca de uma escola pública. Pois bem. Reconhecendo que a biblioteca é o lugar da coletividade por excelência, espera-se que a atitude das pessoas seja condizente e coletiva também. Como nem sempre é assim, mas acreditando que as pessoas tomem consciência disso, coloquei alguns breves avisos gerais para que as pessoas lessem e, quem sabe, mudassem a atitude.

Com todo o cuidado do mundo, coloquei "Respeite os outros usuários: modere o volume das conversas e mantenha seu celular em modo silencioso". Achei mais educado do que simplesmente colocar "SILÊNCIO" pois, pra mim, isso significa "CALA A SUA BOCA E FIM".

Aí vem aluno com notebook e começa a assistir vídeos, com volume bem alto. Ou escutar rádio no celular, com volume bem alto. Ou com PSP/ Nintendo DS, com volume bem alto. E quando peço para abaixar volume, o aluno aponta pro aviso e diz: "mas não estou conversando alto e meu celular não está tocando!". E fala com o maior tom de razão, e de desafio, do mundo.

Tá. Então tenho que refazer meus avisos: "Respeite os outros usuários: modere o volume das conversas e mantenha todo e qualquer aparelho eletrônico, incluindo celulares, notebooks, palmtops, rádios, CD Players, MP3 Players ou Videogames Portáteis em modo silencioso"? Dou uma semana para aparecer esse mesmo aluno, com iPod e fone de ouvido e cantando, em volume bem alto, apontando para o meu aviso refeito e dizendo: "Não estou conversando, e estou com fone de ouvido, não está fazendo barulho!".

O que eu vou fazer? Prever todos os casos possíveis que gerem barulho e que possam incomodar os outros e colocar no aviso?

Começa  mais ou menos assim: vamos viver civilizadamente. E fulano faz algo do tipo... conversar em um lugar de uso público e coletivo, atrapalhando outras 10 pessoas. Revisamos e colocamos 4 ou 5 casos, incluindo isso de conversar em volume alto. Aí fulano volta e canta em voz alta. Coloca-se, então, 45 ou 50 casos, com 10 ou 15 subcasos, em cada caso, incluindo o ato de cantar em voz alta. Fulano diz que o ato que ele fez não consta nos casos e subcasos, porque para o som ser alto precisa ser acima de x decibeis e ele cantava a x - 3 decibeis. Aí sabe como termina?? Analogicamente, mais ou menos assim:

Um trambolho de mais de 1300 páginas que nenhum cidadão comum e em sã consciência vai ler. Um trambolho com mais de 2000 artigos que poderiam ser resumidos em um: seja civilizado. E sabe o que vão dizer quando eu for pedir silêncio e seguir o artigo 5748, parágrafo 46, alínea 35 do código de conduta da biblioteca?

"Mas o senhor quer que antes de entrar aqui eu leia TUDO isso?"